terça-feira, 11 de agosto de 2009

os prantos, as preces e os pregos

Click. Click. Click. Merda, pensei, o isqueiro pifou. De qualquer maneira, não era tão ruim assim, visto que eu estava quase no meu destino. Cruzo o portão, ando lentamente pelos degraus e estou dentro da igreja. Nada de novo – os mesmos bancos sempre dispostos da mesma maneira, a mesma folhinha pregada na parede incentivando o dízimo. Tenho a impressão de que todas as igrejas são iguais.
Cinco da tarde, poucas pessoas sentadas ouvindo a música sacra que vem do altar. Tudo na medida para comover. Mas não estou aqui pela emoção. Então vou para a sala à minha direita, onde imediatamente me deparo com estátuas de santos e seus olhares agonizantes. Aqui e ali, flechas e pregos enfiados nas carnes de gesso. Lágrimas e olhares que pedem compaixão.
Na parede ao lado, algo prende minha atenção. É como uma mesa, mas seu topo é uma grande bacia rasa e retangular. Ali queimam inúmeras velas, nadando na cera derretida. Imagino que cada vela represente uma prece dita em silêncio. Muitos pedindo, poucos agradecendo, todos acreditando. Cada vela ali representa uma história, uma vida, ou várias vidas.
Começo a imaginar o que ronda aquele lugar: doenças, divórcios, desavenças. Descrenças. As chamas são símbolos de pesos que as pessoas não conseguiram suportar. Contemplando tudo aquilo, me lembro de Bruegel, “Provérbios Flamengos”. Aquela mesa suporta a fragilidade humana. Mas acho que de problemas bastam os meus. Uso a vela mais próxima para acender meu cigarro e saio à rua – me sentindo um pouco mesa, um pouco vela.

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