sexta-feira, 9 de abril de 2010

berlim

Tenho a impressão de que se alguém me pegar pelo pescoço agora vou me esfarelar.
Estava tarde, o termômetro da avenida marcava 32 graus e o calor procurava se infiltrar no meu corpo por qualquer poro existente. Não achei ruim. Meu corpo estava vazio.
- Mãe - eu pedi - Mãe, me faça menos humano e mais armadura.
Mas minha mãe não me escutou. Ela costumava escutar, mas isso faz muito tempo e o chão era de terra batida. Depois veio o mármore e todos aqueles andares sob os nossos pés e aí ergueram paredes tão altas que não adiantava nem gritar.
Foi então que eu coloquei várias cidades entre nós. Eu já não podia mais contar a quantas paredes de distância estávamos, mas mesmo assim eu gritava. Mesmo sabendo que era inútil.
- Onde dói? - o médico perguntou. Eu tentei responder. Eu falei sobre armaduras e paredes, sobre vazio e calor. Sobre os gritos. Eu falei pra ele que não confiasse, porque ela nunca ia voltar. Elas nunca voltam. Ele me cobrou 120 reais por isso.